Sai de casa para ir ao seu encontro, aliás como sempre fazia. Havia uma meia hora que lhe tinha ligado e pedido se ele podia vir ter comigo, precisávamos de falar. Tinha pensado a tarde toda no que iria dizer e como iria dizer, não podíamos continuar como andávamos. Desci a rampa íngreme, e carreguei no botão do pequeno comando verde para abrir o portão. Ali estava ele, dentro do seu carro, calmo como a noite que o rodeava. Estava uma noite linda, era noite de lua cheia, e a luz da lua era suficiente para iluminar tudo. Perguntei se queria entrar em minha casa, ele acenou que não e disse para eu entrar dentro do carro.
Respirei fundo e entrei.
Não o cumprimentei, como sempre quis-me fazer de dura e levar a minha avante. Queria mostrar-lhe que desta vez não tinha hipótese e que as coisas seriam como eu queria, desta vez seria à minha maneira. Tinha um bom discurso preparado, estava tudo estruturado, mas como sempre, mal olhei para aqueles pequenos olhos castanhos brilhantes, poderosos como tudo, perdi o raciocino, as palavras fugiram todas, como se o meu coração já pressentisse que algo de mal iria acontecer, mas afinal eu não queria acreditar, até porque ele era meu.
Comecei a conversa:
- Hugo isto tem de mudar não pode-mos continuar assim, preciso de ti, preciso que me dês mais valor, preciso que demonstres que sou importante para ti… Senão acho que é melhor acabarmos, não é o que quero, até porque te amo, e tu sabes isso, só quero que me dês mais valor…
As palavras saíram todas confusas, nada como eu queria, nada como eu tinha preparado, aquilo dito em voz alta até soava mal…
Ele respirou fundo, e baixou a cara, após um momento, quando estava para lhe perguntar se ele não dizia nada, ele levantou a cara e disse num sussurro:
- Quero acabar…
Aí o meu mundo desabou, comecei a tremer, foi como se tivesse a cabeça mergulhada em água gelada, não conseguia falar, um nó surgira na minha garganta, assim como uma quantidade de porquês, assim como uma quantidade de memórias que agora pareciam tão distantes… As lágrimas quase que automaticamente começaram a cair, antes que eu tivesse tempo para as impedir… Fiquei com um aperto no coração, como se de repente ele se tivesse tornado minúsculo, ou como se alguém mo tivesse arrancado… A minha respiração acelerou, e o meu desespero aumentou. Sentia-me a cair, e não avistava o fim, não conseguia ver nada, estava completamente as escuras, sentia as veias da minha cabeça a pulsarem o sangue com uma força enorme, sentia as minhas mãos a tremer, parecia que o chão que ainda à alguns minutos estava debaixo dos meus pés, tinha desaparecido.
Finalmente consegui balbuciar:
- Porquê? O que é que eu fiz? Porquê? Porquê? Porquê?
Ele mantinha-se calado, parecia tão calmo e tão quieto, qualidades próprias da sua personalidade, naquele momento foi das coisas que mais me doeu, foi a sua serenidade… Encolhi-me em posição fetal, a única que fazia com que a dor atenua-se, pelo menos um pouco… Aquilo não podia ser real, não era só queria acordar.
Passado um bocado percebi então que afinal não era um sonho, estava mesmo tudo a acontecer.
Ele abraçou-me da mesma forma que me abraçara tantas outras vezes, por tantas outras razões. Continuei a chorar cada vez mais, continuava a perguntar-lhe porquê? E não obtinha nenhuma resposta… Estava a ficar sem forças, por fim perguntei-lhe:
-Ainda me amas?
- Sabes o que eu sinto… Sabes que eu te amo… - respondeu ele tranquilamente, continuando a abraçar-me.
- Então porquê? Porque me estás a fazer isto? Porque nos estás a fazer isto Hugo? Porquê? – perguntei-lhe desesperadamente.
- Porque é o melhor para nós… As coisas já não eram as mesmas… - Disse-me ele parecendo ter toda certeza do mundo.
- O que é que mudou? – Perguntei-lhe.
-Nós. – Respondeu ele, sem qualquer outra justificação ou palavra.
- Por favor não faças isto, eu não quero acabar, não quero que isto acabe assim, por favor! – Implorei-lhe como nunca tinha feito antes, as lágrimas caíam como nunca haviam caído, e a cada respiração a dor aumentava. Logo percebi que as minhas palavras tinham vindo tarde demais, a decisão dele estava tomada, já à alguns momentos.
Percebi aí a dor de perder alguém, de perder a coisa mais importante da minha vida. Ele continuou a abraçar-me pelo que pareceu horas, mas eu não podia continuar ali, tinha de acordar tinha de fugir dali, tinha de fazer algo, não podia continuar ali abraçada a ele como se nada fosse, como se no fim fosse ficar tudo bem, não podia continuar naquele momento que mais tarde nunca iria esquecer. Mas eu não queria larga-lo, não queria separar-me daquele abraço, sabia que era o último, sabia que se largasse nunca mais poderia abraça-lo pelo menos de uma forma tão intima, mas ao mesmo tempo sabia que quanto mais tempo eu permanece-se ali, mais forte iria ser a dor quando finalmente me separa-se, ele não me tinha respondido a todos os meus porquês, mas agora não tinha força suficiente para lhe perguntar, não tinha força para aguentar as duras respostas que ele me daria, os seus olhos pareciam vazios, como se também lhe doesse como se ele estivesse a sentir exactamente o que eu sentia, o seu corpo estava tenso, enquanto me continuava a abraçar, de certa forma parecia que também ele não me queria largar, mas eu tinha de sair dali, tinha de refrescar a cabeça, tinha de gritar, tinha que fazer algo a dor, algo à raiva, tinha de sair dali antes que disse-se algo que me arrepende-se. Mas antes queria um beijo, queria um último beijo.
- Pelo menos dá-me um beijo, um último beijo – pedi-lhe eu no meio das lágrimas. Ele acenou que não com a cabeça, eu perguntei porquê, ele disse porque não.
- Não queres? – Perguntei-lhe com uma nova onda de dor a aflorar-me na pele. Ele acenou que não com a cabeça.
- Olha me na cara, olha nos meus olhos e diz-me que não queres. Demorou uns segundos, mas ele levantou a cara, olhou-me nos meus olhos, e disse-me que não queria. Foi aí que percebi que era o fim, era o fim do que tinha começado à 2anos. Tudo o que tinha de mais importante na minha vida, tudo o que demorara 6anos a construir, tinha perdido ali, na conversa que não chegou a durar uma hora. Tinha de sair dali, preparei-me para abrir a porta do carro, ele deteve-me olhou para mim e perguntou para onde eu ia, disse-lhe que não sabia, mas que tinha de sair dali, saí do carro, com as uma nova vaga de lágrimas a saírem me dos olhos, não sentia nada, e porém sentia tudo, desatei a correr, corri, corri até não poder mais, e ele sentado no carro, com um olhar triste, viu-me desaparecer(…)
Acerca de mim
- Comme une bouteille à la mer*
- Gostava de escrever grandes textos sobre certezas da vida, sobre experiencias, sobre grandes coisas filosóficas, mas não sou capaz, uso a escrita como amparo, amparo da dor, do vazio, uso a escrita como um refúgio meu, não me importanto se lêem o que escrevo ou não, uso-a porque preciso dela, é uma forma de organizar pensamentos e perceber sentimentos. É assim que sou, se tens curiosidade dá uma espreita, não te prometo que vás gostar, mas é uma escolha tua se queres arriscar :)

Este texto arrepia-me :o
ResponderEliminarAmo-te fofinha, estou aqui para tudo <3
Beijinhos (;
Este texto é a verdade :$
ResponderEliminarObrigada Andreiya, mesmo :$
Sim eu sei que es´tas e agradeço por isso
e por tantas outras coisas **
que merda inês, que merda. só agora sei :(
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