Recordo-me como se fosse hoje, 26 de Outubro de 2006, estava no 6º ano, estávamos a meio do segundo período. Era o que parecia um dia como tantos outros, mas afinal foi o dia em que a minha vida mudou.
Andava no Externato Liceal de albergaria, não é uma escola grande, é uma escola com cerca de 20 salas, um pavilhão exterior, um auditório, um pavilhão coberto com chapa azul escura, com cerca de 200alunos, não sei se tantos. Podia não ser grande coisa para alguns, mas ninguém pode dizer que não é acolhedora, porque o é.
De qualquer forma, eu tinha aulas no piso de cima, era um dia normal, com a mesma rotina de sempre. Tinha acabado de sair, do que penso ter sido uma aula de história, estava a descer a escadaria que ia dar a frente do refeitório quando o vi. Não foi a primeira vez, já o tinha visto, pela escola, com amigos meus, mas não assim. Sabem aquela sensação de quando estamos a ver as coisas mas realmente não as estamos a ver? Aquela foi realmente a primeira vez que o VI.
Como habitualmente fazia vinha ter com o Pedro, na altura o meu melhor amigo, ao lado dele lá estava ele. Um pequeno rapaz, quando digo pequeno refiro-me a sua estatura, ele era magro, tinha vestido um casaco preto, com um pequeno bordado no lado esquerdo a amarelo, tinha umas calças de ganga, e umas sapatilhas. Estilo descontraído, o que já dizia por si algo da sua personalidade. Possui-a uns olhos pequenos e brilhantes, eram castanhos, de cor âmbar, vim a descobrir mais tarde que ao sol ficavam claros, da cor do mel, doces como o mesmo. Acabei de descer as escadas, indignada pelo facto de aquele rapaz estar ao lado do meu melhor amigo, pois nunca tinha falado com ele. Cheguei ao pé do Pedro e cumprimentei-o como sempre fazia, aí ele apresentou-me ao rapaz:
- Pipa este é o Hugo Da Silva, um grande amigo meu! – Disse-me o Pedro, com um enorme sorriso.
Disse-lhe olá e cumprimentei-o também. Ele sorriu ao cumprimentar-me, e foi como se nos conhecesse-mos desde sempre. Foi uma sensação de familiaridade tremenda, é como se fossemos grandes amigos, e aquele era só mais um dos dias que passávamos juntos.
Os intervalos entre as aulas duravam 20minutos, o que dava para dar cerca de 5voltas a escola, crianças, era o que fazíamos, dávamos voltas a escola e falávamos, sobre coisas simples. Fomos os três, comecei a conhecer aquele misterioso rapaz. Discutimos teorias, opiniões, gostos, etc. As coisas normais quando conhecemos alguém novo…
E assim foi durante um mês, passávamos todos os intervalos juntos, falávamos todos os dias, na escola e fora dela, e inevitavelmente começamos a aproximar-nos. Trocamos e-mails, e falávamos horas na internet, durante dias e dias. Surgiu então uma oportunidade de estarmos juntos fora da escola, e óbvio amigos como nos tornamos tínhamos de aproveitar. Cada minuto com ele era tempo bem gasto, era um conjunto de alegria, de sorrisos e de brincadeiras. Ele era gozão, e divertido, mas ao mesmo tempo calmo e sereno, transmitia paz em cada palavra que dizia.
Era dia 19 de Dezembro, e estávamos os dois numa festa de anos. Passamos a festa toda abraçados, como se pertence-se-mos um ao outro como o certo está para o errado. O meu coração batia descompassadamente, sorria só de olhar para ele, e ele sorria só de olhar para mim. E nesse momento a minha vida mudou, percebi naquele momento que era ele, era ele o rapaz certo para mim. Percebi que gostava dele, sentia por ele o que nunca havia sentido por ninguém, e depressa percebi que nunca iria sentir o mesmo por ninguém. Ele sempre foi muito reservado, quer no que toca aos sentimentos quer no que toca a opiniões, é mesmo dele.
Surgiu aí um problema, devia contar-lhe os meus sentimentos? Decisão difícil, devia contar-lhe ou não? Seria o sentimento correspondido? Não sei se era, nunca cheguei bem a saber, mas contei-lhe disse-lhe que gostava dele mas que não queria que ele se afastasse de mim. Ele disse que era muito importante para ele e que também não queria perder a minha amizade. Mas o inevitável aconteceu, afastámo-nos… Sentia saudades dele mas não podia fazer nada, tinha de conquistar a sua amizade de volta, e a única maneira era deixar de sentir aquilo. Então tentei esquecer, como é óbvio isso nunca aconteceu.
Mas continuei com a minha vida, apesar de saber que um dia, um dia iria acontecer algo entre nós, se não tinha acontecido era porque ainda não era a altura certa.
Surgiu aí o Ivo, ele era dos melhores amigos do Hugo, vi nele um refúgio, alguém com quem eu podia contar, desabafar… Quando me comecei a aproximar do Ivo, foi quando o Hugo voltou a dar-se da mesma maneira comigo, claro que o sentimento nessa altura adormecido, voltou a acordar. Mas desta vez, desta vez não lhe disse nada. Entre mim e o Ivo não deu certo, não por ele não gostar de mim, mas por eu não sentir o que ele sentia. Apesar de rodeada de muita gente, de ter muitos “amigos” sentia-me constantemente sozinha, perguntava-me diariamente quando chegaria o dia em que o Hugo viria ter comigo, e dizer-me que sentia o mesmo, começava a perder a esperança que algum dia esse dia chegasse.
Comecei então a falar com o João, era encantador, e curiosamente estava na mesma situação que eu, gostava de uma rapariga, que por acaso era a minha melhor amiga, nasceu aí uma grande amizade, desabafávamos um com o outro, contava-mos tudo um ao outro, cada mágoa, tudo, completávamo-nos pois estava-mos na mesma condição. Dessa amizade, cresceu um amor. Não o amor platónico que eu sentia pelo Hugo, mas sem dúvida um amor, um diferente tipo de amor. Pouco depois recebi uma notícia que abalou a minha vida e o meu ser. Não iria mais frequentar o externato, iria sim mudar de escola e de casa, para outra terra, à 45km de albergaria. Foi horrível foi como cair num abismo, foi como se de repente me tivessem cortado as minhas asas, que à tão pouco tempo me tinham feito voar. Eu e o João começamos a namorar, gostava dele, gostava mesmo. Mas ainda havia o Hugo, o sentimento tinha sido adormecido de novo, mas ele ainda permanecia lá, pronto a explodir no momento certo, como um vulcão que quando chega a altura certa entra em erupção… E eventualmente esse dia chegou após um ano e seis meses a minha relação com o João deu o que tinha a dar, ele percebeu que por mais que gostasse dele, e por mais que ele gostasse de mim o meu coração nunca seria 100% dele, o seu adversário nessa “competição” à muito que havia ganho essa guerra. Apesar de eu e o João namorar-mos a muito o Hugo continuava muito presente na minha vida, falávamos todos os dias, e sinceramente eu não queria deixar de falar com ele, era como se fosse um bem vital, como a àgua.
O João acabou comigo, dando hipótese de começar uma nova história…

"o sentimento tinha sido adormecido de novo, mas ele ainda permanecia lá, pronto a explodir no momento certo, como um vulcão que quando chega a altura certa entra em erupção",
ResponderEliminarcomo te entendo, inês :|
Acho que preferia que não entendesses anna...
ResponderEliminarDevias estar feliz, eu devia estar feliz, isto não devia nada ser assim :'x
pois não, não devia mesmo!
ResponderEliminarás vezes o certo parece tão errado, outras o errado parece tão certo, que na verdade nunca saberemos que decisão tomar ;c